escrita irregular
terça-feira, outubro 31, 2006
  como se perde no referendo - 1º tomo
A 1ª sondagem no DN.
 
  Restaurador Olex

Abel Xavier continua a saga, segundo o Maisfutebol.
Sem dúvida, o jogador nacional com o visual mais simpático.
 
segunda-feira, outubro 30, 2006
  Iluminação Nocturna
Em tempos fui deputado Municipal na respectiva Assembleia de S. João da Madeira.
É verdade.
O meu mandato, de substituição a terceiro, durou 6 meses, interrompido pelo regresso do membro efectivamente eleito. Durante esse período, tive a oportunidade de perceber a dinâmica da Assembleia Municipal, o seu regimento, as tácticas e as inscrições sobre um assunto a debater. Não tive propriamente uma participação activa, preferi mais escutar e assimilar do que proferir qualquer palavra sobre determinado assunto. Penso que o facto de estar a prazo e a iniciação política me inibiram um pouco.
Lembro-me que o período antes da ordem do dia me surpreendeu bastante. Reparos, simples reparos eram abordados pelos vários deputados municipais. Estado de conservação de ruas, sinalização de obras e outros assuntos similares eram motivo de intervenções sumárias. Os mais experientes adiantaram-me que essa prática era comum a vários concelhos, pelo que passei a visitar os locais com problemas levantados, para melhor perceber o assunto. Numa sessão, nesse referido período, um determinado deputado alertou para o facto de uma das ruas da cidade, em período nocturno, se encontrar completamente às escuras. Como o assunto me pareceu grave, desloquei-me a essa artéria de noite, para verificar a escuridão. A rua não era muito grande e dois simples candeeiros tinham as lâmpadas fundidas. Com a simples troca, o problema da iluminação ficava resolvido, no entanto, em noites sem luar, de facto, não se via nada. Passado uns dias a iluminação foi reposta, para sossego dos moradores dessa rua.
Recordo este curto episódio, sem importância, para introduzir uma novidade nestes artigos de opinião, precisamente, o reparo. Não por uma qualquer rua mal iluminada mas, porque na principal Avenida da cidade a iluminação nocturna é diminuta. Associada à pequena queixa está um tema importante, a segurança rodoviária da cidade.
Existem na cidade várias passadeiras bem iluminadas, devidamente pintadas, com sinalização vertical eficaz e até com um moderno sistema de sinalização horizontal, através de pequenas lâmpadas intermitentes implantadas no chão. Penso que nessas, as pessoas não têm medo de atravessar porque sabem que o farão em segurança e serão vistas pelos automobilistas. Pelo que tenho lido, ultimamente os atropelamentos rodoviários ocorrem de dia, alguns precisamente em passadeiras e outros na zona pedonal. Infelizmente alguns são mortais, o que levanta sérias reservas sobre a eficácia do patrulhamento policial. Aliás, o principal motivo de insegurança da circulação de peões na cidade é precisamente o atravessar na passadeira. Os transeuntes apesar de já estarem na passadeira, quando um carro se aproxima nunca sabem se este pára ou não.
Na Avenida Renato Araújo entre as bombas de gasolina e a rotunda do Orreiro, devido à construção do novo centro comercial, a iluminação nocturna desta artéria é bastante reduzida. Sinceramente, as passadeiras estão apagadas, a sinalização vertical mal se vê e os modernos sistemas de lâmpadas intermitentes não existem. Como as obras estão para durar, tendo ainda a agravante da construção aérea, a visibilidade nesta avenida será cada vez menor. A probabilidade de surgirem atropelamentos aumentará. Antes que isso aconteça, é urgente intervir, garantindo que o avanço das obras não retirará a visibilidade aos automobilistas e permitirá a todos os que circulam a pé e têm necessidade de atravessar a Avenida Renato Araújo o possam fazer em absoluta segurança, sem receios de atropelamento.
Não tomem este reparo, como qualquer tentativa de oposição à construção do centro comercial. É importante que a sua construção seja efectuada com segurança para todos, prevenindo-se, ou melhor, evitando-se a ocorrência de acidentes rodoviários graves. A PSP como controladora de trânsito tem uma importante tarefa neste sentido, no entanto, a autarquia como “entidade reguladora”, deve manter e projectar os meios necessários para que a circulação de peões na cidade se faça sem receio, por parte dos munícipes.
 
  150 anos de comboios
A propósito dos 150 anos do caminho de ferro em Portugal e com a coincidência da entrevista de Luis Filipe... Menezes, na qual afirmou esperar alargar a rede de metro em Gaia até Laborim (para quem não sabe Laborim é acima da Rechousa, localidade que obviamente toda a gente sabe onde fica), lembrei-me do meu primeiro contributo para a transformação da Linha do Vale do Vouga, publicado no Jornal Labor de 2 de Dezembro de 2005.

Vouguinha: do Metro do Porto ao TGV
Na quietude dos dias do século passado, o fumo do Vouguinha rasgava o lado poente de S. João da Madeira. Ainda hoje, apesar de ter deixado o vapor, nas tardes calmas de fim de semana ecoa o som do seu apito, quebrando o silêncio dos dias de descanso. O comboio da Linha do Vale do Vouga teve sempre direito a diminutivo, foi sempre tratado carinhosamente pelos habitantes da região. O movimento das locomotivas e suas carruagens surgiu em 1908, quando este caminho de ferro foi inaugurado, ligando numa primeira fase Espinho a Oliveira de Azeméis. Esta Linha tinha como propósito ligar Viseu ao litoral, objectivo conseguido em 1914. Em seis anos foram construídos 140 quilómetros de carris, aproveitando-se o vale formado pelo Rio Vouga, para ligar a Beira Alta ao litoral. Ao projecto inicial, entroncou-se em 1911, a ligação por via férrea entre Aveiro e Sernada do Vouga – freguesia do concelho de Águeda, que ficou conhecido pelo ramal de Aveiro.
Desde o final de 1989, o Vouginha já não ecoa no seu Vale. A linha resume-se agora à ligação de Espinho até Sernada, mantendo-se o ramal desta estação a Aveiro. Os carris são menos, apenas os 62 km de norte para sul, mais os 34 do ramal. Do tempo do vapor, resta agora o Museu, em Macinhata do Vouga.
Factores como a velocidade e os horários dos comboios são fundamentais nas opções de quem pode preferir este transporte. A linha do Vouga está dotada de automotoras herdadas da antiga linha da Póvoa, que atingem velocidades máximas de 70 km/h, caso o estado dos carris o permita. Pelo que pude constatar, de Oliveira de Azeméis para Sul o estado da linha está muito degradado, limitando o andamento das automotoras a 35 km/h. Por outro lado, os horários não são os mais adequados nem para quem trabalha na indústria, nem para serviços e comércios. Algumas estações e apeadeiros, além de estarem muito degradadas, obrigam a paragens do comboio para entrar um ou dois passageiros.
A reconversão desta linha em Metro de Superfície foi um projecto que surgiu há vários anos mas, nunca se concretizou. Na última campanha para as eleições autárquicas, o partido vencedor lançou de novo a ideia. Não cheguei a perceber qual o alcance territorial deste Metro(ver nota). Se o objectivo único é promover a mobilidade na Região Entre Douro e Vouga (EDV), penso que o projecto não terá viabilidade. Outras regiões, ou agrupamento de concelhos estão a reavaliar os seus projectos de Metro de Superfície, como é o caso de Coimbra e o seu Metro para a Linha da Lousã. Para quem pode, o automóvel próprio é sempre a opção mais rápida e o transito na EDV não é muito intenso, com excepção da ligação de Santa Maria da Feira a S. João da Madeira. As pequenas deslocações dificilmente se farão por Metro.
Caso a opção seja aproveitar o limite do percurso da linha do Vouga, inaugurado em 1908, mas com horários regulares, havendo partidas de quinze em quinze minutos ora para Norte, ora para Sul, poderá ser vantajoso para algumas pessoas deslocarem-se por Metro. No entanto, isto não me parece suficiente para a viabilidade deste projecto. Um Metro a Sul da Área Metropolitana do Porto (AMP) faria certamente pressão suficiente para ligar Espinho a Vila Nova de Gaia e desta forma, expandir o Metro do Porto. Os concelhos do Sul teriam um transporte muito mais rápido e envolvente com o centro da grande cidade e claro, muito mais cómodo.
Penso que a entrada de S. João da Madeira para a AMP, só fará sentido quando este concelho deixar para trás a região híbrida do Entre Douro e Vouga e se envolver plenamente nos projectos comuns com os seus novos parceiros, não desperdiçando nem recursos, nem energias em projectos virtuais.
Apesar desta ser a solução mais lógica, penso que devia ser dada mais dimensão ao Metro. Se a Norte um novo rumo pode ser dado ao “Vouguinha”, o que dizer a Sul? Dado o consenso da estação ferroviária de Aveiro como ponto de paragem tanto do Alfa Pendular, como do comboio de Alta Velocidade, no caso de construção da linha vulgarmente designada como TGV, é imperioso ligar toda esta região a esse rápido e “fashion” transporte, sobretudo para quem se desloca para a capital . Obviamente que o trajecto actual não serve. A passagem por Águeda retira rapidez na ligação a Aveiro. O ideal seria ao trajecto actual S. João da Madeira - Oliveira de Azeméis - Albergaria a – Velha construir um troço entre esta cidade e Aveiro. A viabilidade seria conseguida, claro está, com horários complementares à paragem do comboio rápido em Aveiro mas apenas nas sedes de concelho.
Os próximos tempos serão decisivos em matéria de opções do governo sobre os grandes investimentos públicos. O regresso às ligações ferroviárias, quer em Alta Velocidade, quer em velocidade média, está de novo na ordem do dia. Paralelamente, deviam ser lançados estudos sobre a viabilidade da reconversão da linha do Vouga em Metro de Superfície. Nos últimos tempos, Portugal discutiu muito sobre esses investimentos e adiou a construção da ligação ferroviária em Alta Velocidade a Espanha. À nossa escala, não podemos cometer os mesmos erros, a reconversão do Vouginha devia começar já.

Nota: Durante este ano, a CM-SJM apresentou o seu projecto de reconversão da linha do Vouga - um tal de vai-vém Orreiro-Arrifana e o PCP à escala distrital, com recolha de assinatura e tudo, propôs a reconversão desta linha. Pelo meio, numa Assembleia Municipal, o PS optou por não votar uma moção a apresentar à secretária de Estado dos Transportes, Ana Vitorino, o que mereceu o meu descontentamento no texto intitulado "Dizer Não", que por agora não publico. Antes tinha demonstrado a inviabilidade económica do projecto da CM-SJM, em texto intitulado "Plano de Transportes", que obviamente por agora não publico.
 
domingo, outubro 29, 2006
  Língua de Camões
Este país nasceu por vontade de um Franco.
Os seus reis e nobres falavam Espanhol, enquanto o povo conversava em Português.
Até que um dia tudo mudou...
Hoje a nossa língua é reconhecida.
É falada por mais de 200 milhões de pessoas, enquanto em Portugal apenas vivem pouco mais de 10 milhões.
Curiosamente nasceu um Museu da Língua Portuguesa... em S. Paulo.
8 países falam Portugês.
A Galiza pretende aderir precisamente à CPLP, pois considera o Galego uma derivação da língua de Camões.
É a 2ª derivação, depois do crioulo.
 
  Memória Colectiva
Lembram-se de ir de autocarro para o Porto e quando este finalmente arrancava do CCT aparecia uma velhota com pressa a perguntar: Vai para Cabeçais?
Ou de sair do Porto, em "expressos" que diziam Oliveira, Arouca, Vale de Cambra via Feira e no meio da viagem uma velhota amendrontada perguntava: não vai para a Feira dos Carvalhos?
Neste dia recordamos episódios da hora da missa. A confusão da hora velha e da hora nova.
- A que horas é a missa?
- Às 7h30
-pela hora velha ou pela nova?

Será que isto ainda existe?
 
sexta-feira, outubro 27, 2006
  Profecia
Jacinto Lucas Pires fez a sua a 22 de Setembro.
Fica a provocação para o futuro.
 
  Estava à espera
A ministra da Cultura afirma que "as cidades não se renovaram pela cultura".

É certo que não.
No balanço das actividades das capitais da cultura, havia sempre uma lamentação com o tipo de programação, o problema da divulgação atempada e o acerto entre espectáculos e a procura do público. Se cidades com existência de espaços culturais, com mais público, têm dificuldade em gerir alguns desses equipamentos, o que dizer de Coimbra e Faro.
A renovação dos espaços culturais foi importante em cidades como Viseu, Guarda e Braga, para citar alguns bons exemplos.
Não percebo como é que Guimarães poderia ser candidata a alguma coisa há alguns dias e agora apresentado o OE 2007, não haverá mais capitais culturais.

O desinvestimento na cultura será acompanhado pelas autarquias, certamente.
A renovação de mais espaços culturais terá uma dificuldade acrescida. Embora não vital, nalguns casos.
O problema maior será a programação, que limitar-se-à a festas comemorativas e pouco mais - com cartazes sem ponta de interesse e nalguns casos semelhantes a anos anteriores, ou a terras vizinhas.
As autarquias devem procurar parceiros estratégicos na área cultura, entregando a programação a quem percebe do assunto. Parcerias de âmbito nacional, para projectar bons espectáculos, com a componente de retorno financeiro assegurada.
Não é fácil mas, existem bons exemplos de gestão do pelouro da Cultura em determinados concelhos, envolvendo a população, em actividades que transcendem o próprio limite geográfico do mesmo e projectam-nos para uma dimensão nacional.
O melhor exemplo está aqui em Santa Maria da Feira.
 
  Estreia

Fui a uma estreia dum filme. Algo que já não acontecia desde "Pulp Fiction".
"O diabo veste Prada". Um filme com Meryl Streep e Anne Hathaway (na imagem em cima).
O fascinante mundo da moda. O glamour e o bom gosto.
Como se transforma beleza interior e exterior numa personagem fastástica, a troco de elegância e bem vestir - Anne Hathaway.
As díficeis relações do trabalho, entre uma mulher implacável (a personagem representada por Meryl Streep) e os seus colaboradores.
Do ódio, do desencanto à lealdade, à admiração um pequeno passo.
O triste fado de quem trabalha para outros.
 
quinta-feira, outubro 26, 2006
  Reparo
Esta semana a escrita em papel foi apenas um reparo, aproveitado para dar recados a muitos.
 
  Livros



Hoje é lançado 18º livro de António Lobo Antunes, com direito a Ricardo Araújo Pereira, José Agualusa, no momento de apresentação. à noite entrevista com Judite Sousa na RTP, durante o dia várias rádios fazem entrevistas ao escritor.
 
quarta-feira, outubro 25, 2006
  Dr. Peixinho
Chegavam ao balcão sozinhas. Muitas vezes vinham acompanhadas por familiares, ou pelos próprios namorados, ou só por amigos. A cara não escondia o receio, ou a vergonha, do julgamento por terceiros. As palavras saiam da boca a medo e quem as atendia já experientes, colocavam-nas à vontade. Uma consulta especial para o Dr. Peixinho, ou só uma consulta, sem nada de especialidades, era o código de abertura para as mãos do médico.
As adolescentes, ou um pouco mais velhinhas seguiam para uma sala de espera. Em principio não veriam ninguém, além do pessoal auxiliar. Por vezes, o tempo de espera era longo e lá entrava mais uma rapariga, acompanhada ou não, tornando o silêncio comprometedor. Ali a espera era diferente, ninguém ousava perguntar nada às outras, não por falta de simpatia mas, porque era arriscado e aborrecido falar-se do assunto. Bem, no fundo não havia nada a falar. O que interessava era terminar aquilo e sobretudo, fugir dali o mais depressa possível.
Quando se era chamada, as pernas tremiam; havia casos encaminhados para as urgências no hospital distrital, muitas vezes devido a semanas mal contadas e lá se ia o segredo, além dos problemas físicos associados.
No final, tudo correra bem. Os conselhos apropriados: relações só daqui a um mês, atenção à utilização de contraceptivos e o discurso ajustado das consultas de planeamento familiar para adolescentes. Um lugar democrata a troco de umas dezenas de contos.
Umas lágrimas finais, os nervos que explodiam após o sucedido.
Um recomeçar de vida, com a mágoa pessoal e um silêncio eterno sobre o assunto, porque a sociedade recrimina estes actos.
Até um dia.
 
  cheias


Uma palavra que se pensava estar retirada do léxico português.
As cheias voltaram à região centro, em especial em Pombal, concelho de onde sou originário.
Normalmente, em Dezembro havia cheias. O rio Arunca transbordava e inundava as zonas ribeirinhas, mesmo no centro da cidade. Constou-me que um dos passatempos num dos bares, situado nessa zona, era beber cerveja com água pelos tornozelos.
Margens emparedadas é o erro normalmente cometido, em zonas urbanas.
Se continua a chover assim, várias cidades correm o mesmo risco, além dos campos ribeirinhos.
 
terça-feira, outubro 24, 2006
  get back to bunker
Os meus amigos e comentadores residentes do blog, rb e rocha, trocam argumentos políticos sobre algo que não escrevi, por isso, obrigam-me a voltar ao tema do "bunker" da direita.
Sinceramente, não percebi o primeiro comentário de rb. Não devia ser para o post por mim editado. Sobre o assunto abordado e que mereceu comentários apropriados pelo 2º comentador de serviço, tenho a acrescentar o seguinte: o PS não pode ter apenas uma visão Manuela Ferreira Leite sobre a governação, como defende rb. Existe algo mais, para não repetir Jorge sampaio, para além da consolidação das "contas públicas e modernização e eficiência dos serviços do estado". O relançamento da economia é extremamente importante, a modernização do sistema de ensino, também. Poderia divagar um pouco mais, mas importa referir que o poder de comunicação, não desculpa não se cumprir promessas eleitorais. As taxas moderadoras são para mim, o ponto grave. Embora pouco recorra ao SNS. A alteração do conceito SCUT, sendo grave e c'um catano, vá taxar todas as auto-estradas que utilizo, até aceito. O que não aceito, é que não exista uma alma neste país, que não queira descobrir onde são gastos os 750 M€ em SCUTs, porque o argumento de conservação das mesmas é muito engraçado mas, até hoje ainda não vi um único buraco reparado na A29, nem muito menos as sebes cortadas.
Relativamente, ao assunto da posta original que rb tentou rebater, no seu 2º comentário. O ardil era esse mesmo, quantificar-nos blogs como quem colecciona cromos. Caro Ricardo, apesar do score 1-5, poderia rebater com uns 20 de direita e estavamos nisto uns dias valentes. No fundo, tu próprio o consideras no teu comentário, a proliferação da direita na blogo, remete-a para o seu próprio bunker. O símbolo de link, um cadeado, prende-a e confina-a, remetendo-a para um momento sem expansão.
 
domingo, outubro 22, 2006
  Velhas

A propósito duma nova exposição patente a partir do dia 26 de Outubro em Lisboa, Graça Morais conta que em tempos, transmontamos radicados em Lisboa, reviam algum familiar nos seus retratos expostos e agarravam-se a ela a chorar, comovidos.
Gosto muito da pintura da Graça Morais, sobretudo dos quadros com velhas. Para quem tem ascendência rural, olhamos para aquelas mulheres retratadas e identificamos alguma semelhança com as memórias das terras dos avós. Os trajes negros, o buço, o puxo no cabelo, entre outras particularidades retratam o país atrasado que outrora fomos. É certo que ainda vemos exemplares de velhas assim vestidas em algumas aldeias serranas, ou no interior profundo mas, no geral o português evoluiu.
A própria Graça não pinta apenas velhas mas, quando o fez retratou a memória de muitos.
 
  A direita está fechada num bunker
Quem o diz é Agustina Bessa Luís, portanto, insuspeita.
Se me permitem, acrescentaria o bunker é aqui mesmo, na blogosfera.
Desde blogs fascistas, conservadores, neo-liberais, liberais, sociais-democratas existe ideologia para todos os gostos.
O mais curioso é que estes são os mais visitados. Quando é publicada a lista semanal dos vários "sitemeter", os mais procurados são sempre de direita. Em matéria de qualidade acontece o mesmo, as citações em jornais do que se escreveu em blogs, encaminham-nos sempre para páginas da mesma área ideológica. Se verificarmos com mais pormenor, a melhor oposição é feita da blogosfera. A política partidária não consegue articular argumentos com a mesma ferocidade, a mesma imaginação e sobretudo a mesma velocidade do que qualquer blogger.
Iniciei-me na leitura de blogs pela necessidade de encontrar opiniões diferentes do politicamente correcto. Estava cansado de ler apenas Miguel Sousa Tavares, no seu contínuo "nómada no oásis". Detesto o vazio contestário da esquerda socialista. As opiniões partidarizadas, que mais não fazem do que argumentar para atirar areia aos olhos dos outros. Uma retórica espremida, sem sumo. Julgando os outros parvos e sobretudo, situacionista em termos de posição pessoal nos lugares do partido.
É evidente que no espectro da esquerda se encontram páginas muito boas e gente com valores ideológicos, sem filiação partidária, que muitas vezes mais não fazem do que contra argumentar os liberais e afins.
Como vai este potencial de direita, transformar-se em algo diferente, não sei. Se soubesse não estava aqui. Eu pessoalmente prefiro tê-los em lugares virtuais, do que em posição de poder. No entanto, reconheço que isto da blogosfera sem eles não teria piada nenhuma e resumia-se rapidamente, com passagem obrigatória por A causa foi modificada (link aqui ao lado).
 
sexta-feira, outubro 20, 2006
  Ildo Lobo: 20/10/2004

A voz de Cabo Verde
Cabo Verde é um país cuja a actividade musical dos seus habitantes é imensa e extravasa o próprio território do arquipélago. Com escassez de recursos naturais, uma agricultura miserável e vivendo das receitas do turismo, o Caboverdiano serve-se da música para obter uma porta de saída para países Europeus. A sua característica boa disposição é transposta para a invenção de acordes musicais e recriação em géneros como a morna, a coladeira e o funaná.
A música tem tanta importância neste país, que são sobejamente conhecidos alguns intérpretes. Para quem ouve música africana, são comuns nomes como Cesária Évora, Tubarões, Ildo Lobo, Bana, Tito Paris, sem pretender criar uma escala de importância.
Quando aterrei no Aeroporto Internacional da Ilha do Sal, num voo vindo de Lisboa, fui brindado com a voz de Ildo Lobo. O táxi que me esperava, na noite quente do arquipélago, entoava uma sua música. Perguntei ao condutor se era alguma música dos Tubarões e este respondeu-me assim: “É o Ildo”. Esta resposta, curta, significava muito. O Ildo, natural precisamente da ilha do Sal, era uma referência para todos os habitantes de Cabo Verde.
Era a voz de Cabo Verde.
Ex – vocalista dos Tubarões, grupo que, durante duas décadas, foi referência no mundo musical, Ildo Lobo verbalizou e entoou os sentimentos do seu povo. O disco “Tubarões ao vivo” gravado em 1994 é uma referência da música africana. De tal forma, que em várias festas de Carnaval, no Pé de Salsa, aqui em S. João da Madeira, passavam músicas desse disco, ritmos africanos pelo meio das habituais horas de samba.
Durante a estadia em Cabo Verde, tive a oportunidade de ver no Cine Teatro de Mindelo, na ilha de S. Vicente, um espectáculo do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra. Nesse espectáculo actuou como artista convidado Ildo Lobo, que cantou uma música de Zeca Afonso, acompanhado pelos Antigos Orfeonistas. Um dos elementos do Coro, também ele com origens Cabo Verdianas teve direito a um solo, devidamente acompanhado pelos restantes membros, cantando o tema “Sôdade”, celebrizado pela diva dos pés descalços, Cesária Évora. Foi um momento emotivo, mágico, daqueles que ninguém da plateia, do palco, dos bastidores jamais esquecerá. E a certa altura tornou-se enorme! De súbito, surge em palco Ildo Lobo, improvisando um refrão e acrescentando à música um longo, sonoro e sentido “Sôdade, Sôdade, Sôdade, Sôdade…”
A 20 de Outubro de 2004, Ildo Lobo caiu na sua casa na Cidade da Praia e faleceu. Quando ouvi a notícia na rádio, em Portugal chovia copiosamente. Grande ironia, em Cabo Verde, pouco ou nada chove. Da minha memória, além das paisagens áridas do arquipélago cabo-verdiano, avivei a imagem de Ildo Lobo em cima do palco. Recordava a sua voz em músicas como “djonsinho Cabral”, “biografia dum crioulo” e só conseguia repetir o refrão de “disispero”: “Explorado, na Cuf, na Lisnave e na J. Pimenta, explorado”.
Ildo Lobo é recordado como património do seu país, reconhecido como um músico com obra a preservar e a valorizar para que “gerações futuras possam permanentemente lembrar este grande vulto da cultura cabo-verdiana”. Fica na história o seu lado humanista e as causas nobres que cantou, a independência nacional - eternizando temas tais como “Labanta braço bo gritá bô liberdade”, como mais tarde cantando “Ask Xanana”, em prol da luta de libertação do povo timorense.
 
  Uma família disfuncional...


Um filme.
Por sinal, muito bom. Com humor refinado e um final hilariante.
O título original foi traduzido como "Uma família à beira de um ataque de nervos". Cinema americano, nada "hollywoodesco". A pergunta que fica é: como é possível um argumento destes num filme "made in usa"? Indie, i know.
Mais não escrevo.
 
quinta-feira, outubro 19, 2006
  Ventilan
Contas por alto, até hoje fiz 24.300 inalações com o ventilan. Corresponde a 121 inaladores da Glaxo.
Deve haver asmáticos com maior longevidade e portanto, com um número de inalações superiores à minha. O meu número é já por si impressionante.
Quanto mais anos viver mais inalações darei, pois o ventilan irá acompanhar-me o resto da vida. Se conseguir duplicar a minha idade, chegarei às 60.000 inalações, o que deve ser record mundial. Se atingir a 4ª idade, certamente com maior debilidade logo o número de inalações diárias aumentará, poderei atingir algo como 100.000 inalações, ou seja, 500 inaladores numa vida inteira.
Espero que jamais a Glaxo abra falência. A minha dependência neste fármaco é total.
 
quarta-feira, outubro 18, 2006
  sai uma rodada

oferta do blog
 
  3 pedras de gelo
No intervalo, o treinador escocês descontente com o resultado, decidiu alterar o sistema de jogo: afastou o avançado Miller de Luisão (impecável); deu instruções para os centros serem colocados para a entrada da área, onde iria aparecer o japonês para criar desequilíbrios e colocar a bola nos avançados. No balneário oposto, o treinador entrou satisfeito, os jogadores viram-no sorrir, tudo a correr como planeado, "agora vamos melhorar e meter o golo que nos faltou na primeira parte", terá dito. Depois desse golo, iria mexer na equipa, tirava um avançado e metia o Nélson a extremo, que o lado direito não funcionava, colocando o Simão na esquerda.
Esta forma de defender tácticas com o jogo controlado, onde faltava apenas a ala direita alimentar os avançados, foi fatal. Simão, só depois do 1-0 (ou terá sido do 2-0?) é que entrou no jogo. É certo que teve um livre e uma queda na área mas, encostado à direita não rendeu. Na ala esquerda, Léo e Nuno Assis, tiveram bons pormenores e conseguiram criar jogadas e cruzamentos perigosos. Miccoli não acreditou nas facilidades que lhe foram dadas e não correu para golo. Ainda assim, esteve melhor que a mancha, Nuno Gomes. Ao intervalo este devia ter saído, entrava Nélson no seu lugar e tentava-se alargar a frente de ataque. Esperando que os médios defensivos, continuassem a fazer o bom jogo que estavam a fazer até ao momento, esta táctica daria golo, certamente. É claro, que Alcides não fez um passe de jeito e defendeu mal, até porque estava mal acompanhado nessa ala (o 1º golo, nasce pelo espaço disponível no lado esquerdo dos escoceses para efectuar cruzamentos). Foi também evidente que Ricardo Rocha, na 2ª parte perdeu-se. Acusou o 1º golo, não subiu para colocar o avançado em fora de jogo, no 2º não soube recuperar, hesitando entre o avançado e a dobra no espaço vazio e depois eclipsou-se.
Tudo isto, porque perdi tempo a ver o jogo, ao contrário do que tinha escrito em post anterior.
Já agora depois do tal golo, que o SLB iria meter, retirava o Nuno Assis e colocava um médio ... Beto ou Karyaka (tive que ver quem estava no banco) e jogando em contra-ataque procurava o 2º golo. No final, trocava Miccoli por Kikin.
Com um pouco de jeito bebia um Licor Beirão... com 3 pedras de gelo, claro.
(aproveitem, pois desta vez os comentários ficam disponíveis)
 
terça-feira, outubro 17, 2006
  Favas com chouriço
Eu desconhecia esta música, este videoclip. Estou admirado. É ridículo, ou até mesmo estúpido. Senhoras e Senhores... José Cid, com o devido respeito pelo Mouro na Costa.
O verdadeiro Trol.
 
segunda-feira, outubro 16, 2006
  2ª de manhã
As 2ªs - feiras são difíceis. As manhãs são insuportáveis. Ouvir a voz arrastada de Santana Lopes na TSF às 8h40m é divinal. Ficamos logo bem-dispostos. O esforço do homem para articular uma frase àquela hora, com uma voz de sono é recompensador. No Canhoto, Filipe Nunes explica o que está por de trás daquela sonoridade.
 
domingo, outubro 15, 2006
  Volver
Sala sem pipocas, nem gritos de crianças. O regresso ao filme de adultos.
Concordo com António Pedro Vasconcelos, na sua crónica no Sol (ainda não disponível, mas fica já aqui o link). O cinema actual resume-se à criatividade de poucos realizadores e um deles é precisamente Pedro Almodovar.
Ainda no Sol, Paulo Portas na edição da semana passada, enaltecia a beleza e o corpo de Penélope Cruz- encarnou muito bem a personagem.
Um filme à moda antiga...
 
  15 minutos de fama
Foi no glória fácil...
Diariamente, a visita obrigatória.
 
sexta-feira, outubro 13, 2006
  Opinião semanal
Para evitar encher de letrinhas o blog e torna-lo pesado, deixo apenas o link à opinião do Jornal Labor desta semana.
 
  Eu fiquei maluco
Na conferência que antecede o jogo deste sábado, Fernando Santos diz que "não é maluco".
Pois eu, em Maio, fiquei maluco, quando soube que seria ele o próximo treinador do SLB. A cura só foi conseguida não vendo os jogos, ou evitando perder muito tempo a vê-los. Fiquei muito melhor, o Benfica é que não.
 
quinta-feira, outubro 12, 2006
  Nobel para o turco
O turco Orhan Pamuk foi agraciado com o Prémio Nobel da Literatura de 2006. Segundo ouvi hoje, o seu primeiro prémio literário foi em 1979. Esse era o ano em que António Lobo Antunes projectava receber o seu Nobel. Não o conseguiu mas, editou o seu primeiro livro "Memória de Elefante".
Não sei se algum dia Lobo Antunes terá o seu Nobel, o de José Saramago é muito recente. Isto dos prémios da Academia Sueca tem muito que se lhe diga, ora são escritores de revelação, ora são para consagração de carreiras. Pode ser que por aqui venha o prémio de Lobo Antunes, lá para 2027.
Entretanto, lá vamos lendo os seus textos, os que melhor retratam os portugueses, onde nos revemos e apreciamos a forma como somos descritos. Cada leitura, uma descoberta nova, mesmo nas crónicas quinzenais da revista Visão (sem link).
 
terça-feira, outubro 10, 2006
  Questões pertinentes
Um blog, uma pergunta por dia.
Lembram-se do à vontade do Futre?
 
domingo, outubro 08, 2006
  80's
Uma banda há muito tempo esquecida: Shriekback.
Este Nemisis passou em tempos no Videopolis, tinha-o gravado no sistema Betamax.
Reparem no pormenor VH1 classic. Efectivamente, era um clássico do saudoso programa de António Sérgio, versão matiné.
 
  Rede de urgências
Entrou no táxi já atrasado, pelo que teve logo de ouvir: “Estive quase para ir-me embora, se não fosse pela consideração que tenho por si, já tinha arrancado.”
Correu-me mal esta noite, foi a resposta ao taxista. Este olhou pelo espelho e logo reparou no lenço entre a mão e a cara, provavelmente a estancar uma ferida aberta.
Quer que o leve ao hospital? – perguntou. Prontamente respondeu: Ao daqui não! É melhor ao lá de baixo, fica a caminho do nosso destino habitual.
O taxista apesar de discreto, resmungou algumas palavras sobre a perda de valências dos Hospitais. Passado uns metros, fez a inevitável pergunta da qual não queria obter resposta, sobre a nova rede de urgências. Assunto em voga na semana. Enquanto o taxista dissertava a sua sabedoria sobre o assunto, o conduzido embalado pelas palavras ouvidas e pela condução, reviu os acontecimentos da noite.
Seria uma noite normal de fim de semana, para começar o costume, uma partida de snoocker, seguida da viagem por táxi, frete combinado frequentemente, só com ida até ao casino, ceia e aqui variaria o programa: a sua condição de homem disponível e a vontade de passar momentos com corpos femininos, macios e perfumados, podiam-no reter numa noite em agradável companhia, ou então, o regresso solitário a casa, num qualquer carro de praça disponível.
Desta vez, não seria assim. O adversário nas bolas coloridas, era um daqueles chatos, batoteiros e conflituosos, ainda por cima familiar do dono do salão de jogos. A partida estava a correr bem, até que uma boca mal medida, virou em ameaça e daí até à violência física foi um pequeno passo. Levou uma cabeçada do energúmeno e mais um par de socos que ficou com a cara aberta e sem hipótese de defesa. Apoiado à mesa de jogo, olhou em redor à procura de um objecto para se defender e igualar o “combate”. Quando viu que o taco estava longe do seu braço, lembrou-se da saga dos Skywalker e pensou no poder da levitação. De repente, o taco estava na sua mão. Sem acreditar sentiu-se um guerreiro Jedi e investiu sobre o opositor. Um golpe aqui, outro ali, mais duas fortes tacadas e desembaraçou-se da situação criada. Uma voz disse-lhe para fugir, que o encobria. Percebeu ser de alguém que o tinha ajudado e atirado o taco naquela hora difícil. Mais aliviado, percebeu que a força não estava com ele.
O taxista expelia bairrismo por todos os poros. O tom de conversa não estava agradável... Decidiu interrompe-lo, precisava de ajuda do condutor no Hospital. Explicou que teriam de representar, dramatizar para conseguir dar entrada nas urgências, sem grandes questões. Ao taxista agradou-lhe a ideia de ludibriar o sistema nacional de saúde, uns penetras na urgência dos outros.
Como cliente agradeceu e pediu para esperar por ele, pois esta noite voltava a casa mal tivesse o curativo, que pagaria o que fosse preciso pelo tempo de espera, mais a viagem como se fosse para o destino previsto. O taxista ficou satisfeito, a vida não estava fácil, como já tinha dito várias vezes, àquela hora só poucos trabalhavam e ele próprio queria estar em casa.
Encostado no banco de trás, compreendeu o vazio da sua vida. Enganava-se no jogo nocturno, onde ganhava muito mais do que perdia. Esta pequena satisfação nunca lhe trouxe felicidade, antes pelo contrário. Separação, visita do filho apenas de vez em quando, uma vida desenraizada, sem qualquer ligação social. Só no mundo.
Antes de chegar ao hospital disse ao taxista: O que é necessário é alargar a rede de urgências dos Hospitais Psiquiátricos. Se assim fosse, seria para lá que iríamos agora. Estou cansado de fingir.
 
sexta-feira, outubro 06, 2006
  Sítio da D. Benta

Durante os últimos anos sempre que via o Mantorras, lembrava-me alguém. Nunca consegui associar com quem. Apesar de gostar muito do rapaz ("encarna o espírito do pretenso jogador do SLB") e de euforicamente gritar golo sempre que o autor é o Angolano, a tal imagem estava-me gravada na memória. Sempre acreditei ser um jogador de futebol do passado. Mas não.

Ao longo dos anos, Mantorras foi dando pistas: “pode bater, é de borracha”; “estou a jogar só com uma perna”; ainda assim, só quando li este texto de maradona (Não sei se já foi notado...) é que percebi! Nem mais nem menos, o Saci do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

 
quinta-feira, outubro 05, 2006
 
Quando o Outono começa...

O equinócio de Setembro não deixou dúvidas, dia de chuva, para recordar a todos que o Outono tinha chegado.
Adeus dias escaldantes.
Na viagem matinal e apressada rumo à escola dos filhos, recordo as férias grandes. Meses e meses, sem aulas. Houve um ano com quatro, de 15 de Junho a 15 de Outubro. Quando chegavam os dias de chuva, sabíamos que as férias estavam a terminar. A hora recuava em final de Setembro, o que tornava as tardes mais curtas. Era o último sinal para o fim de férias. O ano lectivo era o nosso principal calendário.
A escola para quem é pai, é hoje sobretudo uma recordação. É certo que existem as várias preocupações. Analisar, avaliar e comentar as escolas e os professores. Escolher um sem número de actividades extra escolares: desportos, formação física, musical, linguistica, etc., que julgamos serem as adequadas para os nossos descendentes. Contudo, este tempo de regresso à escola, encaminha-nos para o reino da nostalgia.
Percebemos a alegria dos nossos filhos, pois recordamos a alegria do que era voltar a ver amigos, colegas, professores e demais pessoal envolvido, caras que perdemos o contacto visual, com o tempo. Nomes que são hoje apenas uma memória, que sabemos vivos, embora sem saber o seu paradeiro. Nada sabemos deles, o que julgávamos impossível nesse tempo.
É verdade que os primeiros anos escolares são os mais apreciados. O novo mundo que nos é ensinado e o fascínio proposto, não tem comparação com os demais anos. A partir da adolescência, a escola fica para segundo plano, pois o tempo livre é mais apreciado e aproveitado para outros interesses.
No período após as aulas, ou no intervalo das mesmas, enquadramo-nos com pessoas com afinidades comuns. O grupo de amigos, que nos irá acompanhar pelos anos seguintes, até sairmos para outras cidades, para seguirmos os estudos e optarmos por uma actividade profissional.
Os primeiros dias de Outono, logo chuvosos.
Afinidades com uma música de Tim e Zé Pedro. Entre a “chuva dissolvente”, verificamos que de todas as artes, a música é das mais nostálgicas. Acompanhamos novidades da sétima e de outras artes. Não conseguimos seguir, descobrir a música do momento e as tendências actuais. Invariavelmente, voltamos ao passado. Enquanto adolescentes, convivemos com gerações que tinham feito todas as revoluções, políticas, culturais e outras. Não entendíamos a constante referência a grupos musicais surgidos em décadas anteriores. Agora, recordamos e assinalamos as duas décadas da edição de alguns LPs do nosso tempo. Músicas sem videoclip obrigatório, porque a rádio era o principal meio de divulgação. Ouvir novamente a fantástica sonoridade de “How soon is now?”, dos The Smiths vocalizado por Morrissey, ao fim destes anos todos, é um puro acto de desespero. Passar alguns minutos a olhar para prateleiras de discos de vinil com capas em tamanho grande, é sobretudo uma recordação de uma actividade de juventude. O entrar da agulha em cena, com aquele barulho característico, tipo fritar de batatas, por mais escovada que aquela estivesse , ou limpo o vinil. O ouvir uma sequência 5 ou 6 faixas e repetir novamente aquele gesto, que no fundo era um ritual, para o lado B.
Esperamos os dias secos e quentinhos de Outono. A vontade de regressar aos espaços naturais. As praias próximas serão de novo itinerário, já desprovidas de domingueiros. Mais as subidas à serra, que já se deve ter “limpo” das atrocidades do verão.
A grande cidade ganha nesta época uma atracção maior. Os seus jardins e parques, envolvidos pela paisagem urbana. Pelas folhas caídas das grandes árvores, pela oferta que nos proporciona. Percebemos porque é que alguns dos nossos amigos, colegas de escola jamais voltaram à terra natal. Felizes, apesar dos contratempos do trânsito confuso. De longe, prefiro a vida recata da província.
Outono, cobertores de volta. Edredões para os mais friorentos. As primeiras constipações que degeneram em gripes. Iniciamos a preparação para o aquecimento caseiro pelo fogo envidraçado. Até haver essa necessidade, ainda escrevo mais umas linhas. Certamente.

(publicado aqui)
 
Abriu a 5 de Outubro de 2006.

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