escrita irregular
quinta-feira, janeiro 25, 2007
 
Anarcofácio

A individualidade seduzia-o. Apreciava o pensamento livre. A real anarquia, sem bombas, porque essa opção armada, assemelhava-se a acções dos regimes totalitários, que ele detestava.
A ausência de estado, era o que mais lhe agradava. Não conseguia suportar a ideia de alguém poder decidir o seu futuro, as suas vontades. Um conceito socializante da sua vida assustava-o. Imaginar um qualquer funcionário de partido - cujo mérito tinha sido colar cartazes, angariar patrocínios, mobilizar militantes e claro, desenvolver uma capacidade oratória capaz de defender as "causas" partidárias - a poder decidir o seu futuro, crispava-o.
Sabia que o conceito de pensamento livre tinha-se banalizado. Todos eram "livres pensadores", num mundo livre e democrata.
A leitura era sempre recorrente: os clássicos Ibéricos, Torga de Portugal e Unamuno de Espanha, ambos Miguel, o primeiro em homenagem ao segundo.
Agradava-lhe a história do Espanhol cruzada com a Guerra Civil.
Um livro recente despertou-lhe a atenção, Miguel de Unamuno apenas se "encaixou" no lado republicano por não apreciar o estilo de Franco. Pensou, na verdade como é que alguém podia suporta-lo. Verificou melhor e percebeu a história.
Erro crasso.
A opção republicana não tinha sido espontânea. A Unamuno não lhe seduziram as colunas de anarco-sindicalistas, nem comunistas, nem o raio que os parta. Afinal, nada tinha em comum com esta gente. A sua opção foi do género "do mal, o menos."
Confuso.
"A Guerra Civil Espanhola foi um ensaio da URSS para expansão do comunismo".
Foda-se!!! Sempre percebera o contrário, tendo como protagonistas os países do Eixo do Mal. E o bombardeamento a Guernica???
A história é terrível, mais vale não percebe-la à luz dos nossos dias. Senão o que dizer da semelhança do seu "Ausência de Estado" com a ideologia liberal.
Sorriu, percebeu como a anarquia tinha vencido todas as ideologias, todos os regimes totalitários, todas as novas invenções "civilizacionais".
Infelizmente o objecto da vitória não era do seu agrado. O príncipio não era tudo. A sua burguesa "luta pela fraternidade" tinha ficado esquecida.
Envergonhado, fechou os olhos.
Jamais os voltou a abrir.
 
sábado, janeiro 20, 2007
 
homofácio

O fim de semana tinha sempre a componente de engate. Em geral raparigas diferentes, por vezes uma repetição, raramente uma terceira vez, para o caso não virar sério e surgir alguma forma de compromisso.
Durante o engate, copos, droga, chegar ao quarto de madrugada ou de manhã cedo e então sexo.
No acordar horas depois, um vazio de ideias: "O que fiz ontem?", "Com quem estive ontem?", olhar para o lado e perguntar-se: Como é que se chama esta?
Despedidas simpáticas, após um almoço a dois num sítio, também ele, simpático, trocar números, despedir-se e esquecer. Raramente ligava para alguma das conquistas. Esperava o contacto delas, se sentisse muita aproximação, desculpava-se e cortava-se. Aborrecia-se por não lhe respeitarem a liberdade.
De engate em engate, uma tarde acorda e ao olhar para o lado viu um corpo magro. Pensou "esta sai ao pai", olhou melhor e viu alguns pelos peitorais. Mau. Levantou o lençol e agoniou, um macho na cama dele!!! Ainda por cima, com vontade de urinar!
Levantou-se de imediato cheio de náuseas, com vontade de expelir o que lhe restasse no estomâgo. "Droga marada, como é possível ter comido um gajo?"; "Será que foi o gajo que me comeu, o cabrão?"; não se lembrava de nada, de gajo nenhum, de nenhum contacto físico, de nenhuma penetração.
Estava aflito, a homossexualidade repugnava-lhe. Já tinha passado de tudo naquele quarto, loiras, morenas, ruivas, altas, baixas, magras, bem feitas, boazonas, gordas, xxl, xs, feias, bonitas, belas, sensuais, sex-symbol, 2 de uma vez, trintonas, quarentonas, uma futura mãe solteira, cinquentonas em bom estado mas, perversões e
homens, nunca!
Olhava-se com dificuldade ao espelho e nas suas costas viu uma mulher a espreitá-lo, acabada de acordar. Lembrou-se do seu rosto da noite anterior, recordou o roteiro e o final da noite:
- Assustaste-me!!!
- Desculpa estive a dormir na sala. Acordei com o teu barulho. Mas... não ficaste assustado por me veres, pois não?
- Por não te ver.
 
terça-feira, janeiro 16, 2007
 
- finalmente!
- ui! ainda estás por aqui!
- é verdade. pensavas que te livravas de mim?
- cheguei a acreditar nisso. mas ouve, finalmente o quê?
- a escrita ficou irregular!
- adequada ao nome.
- intermitente?
- mais do género inconstante.
- espero-a bem acidentada.
- estás a vomitar sinóminos?
- parece, o que mais aprecio é descompassado.
- o meu preferido é heteróclito.
- ufa!!! és dos bons.
- temos pouco a dizer hoje?
- pois!?
- vou passar à escrita, para alimentar o outro blog.
- fico à espera para ler.
 
sexta-feira, janeiro 05, 2007
 
posfácio

agora que ninguém visita isto, posso escrever assim:

- Não sei se me estou a enganar. Preciso de alguém para trabalhar cá em casa, a senhora tem boas referências e boa apresentação. Aqui é que reside o problema. O meu marido, segundo me disse uma última empregada, é dado à conquista de domésticas. Por isso, vamos fazer a seguinte combinação: qualquer passo em falso da parte dele, a Patrícia avise-me logo, ok?
Passaram-se muitos dias de rotina da lida caseira. A relação com a patroa, apesar da exigência, era muito boa e do marido não se via nada de especial, em relação a possíveis abordagens. Antes pelo contrário, sempre muito simpático, atencioso, a questionar se estava a gostar de ali trabalhar, entre outras perguntas sem qualquer deslumbramento e ponta de conquistador.
Era um casal sem filhos por opção. Tinham uma óptima relação, sempre agarrados e nunca discutiam à frente dos outros. Desde os seus primeiros tempos de trabalho, Patrícia nunca os viu zangados, nem amargurados. Questionava-se se a desconfiança da patroa não seria em relação a ela e por isso começou a evitar, entrar onde estive o senhor. Não conseguia evitar que ele entrasse onde estivesse a arrumar ou limpar mas, por prudência só ia aos quartos em horas que não estivesse ninguém em casa. Os horários dos patrões não eram fixos, por vezes passavam manhãs em casa, outras vezes tardes. Esta flexibilidade, implicava uma desorganização no seu trabalho mas, combinava os timings dos serviços com a dona da casa para evitar censuras.
Uma manhã optou pela limpeza da casa de banho. Estava de joelhos a limpar, de costas para a porta. De repente ouviu passos e em seguida um deslizar suave da porta. Virou-se e qual o seu espanto quando viu o marido da patroa. Levantou-se e ele acalmou-a, queria apenas agradecer-lhe o excelente trabalho que estava a fazer em sua casa, que a vida em casa era agora mais tranquila, que apesar de ela não conhecer a sua esposa antes, notava-se agora que estava mais calma, com mais tempo para ele, sem a mania das perseguições, sem duvidar da sua fidelidade. E em seguida saiu.
Ela respirou fundo e optou por não contar nada a ninguém. Vivia só com a mãe. Era divorciada e não tinha filhos, o marido tinha-a trocado pela heroína e tanto pior para ele. O trabalho em casa de outras pessoas não a incomodava, pois procurava casas com possibilidades de vencimento um pouco mais elevado e sem crianças, pois as pequenas pestes dão sempre mais que fazer.
Passados uns dias, sentiu de novo a porta a fechar-se nas costas dela. Virou-se assustada e deparou-se de novo com o "senhor". Desta vez ele aproximou-se um pouco mais. Disse-lhe palavras belas, poesias ou prosas que a embriagaram. Nunca lhe tinham falado assim. Tanto respeito na linguagem, tanto adjectivo a qualificarem-na, tanta perfeição aos olhos de quem a via e pelos vistos a cobiçavam, fizeram-na derreter-se ao galenteio. Quando o senhor Vicente deu um passo para próximo dela, não se afastou, esperou para ver, ou melhor queria mesmo sentir o que se iria seguir.
Os últimos meses de casada tinham sido terríveis, ressacas e violência foram o dia-a-dia da sua vida. Tinha-se esquecido do que era namorar, de palavras de elogio, de ternura, do amor e outras coisas que estava a ouvir e a sentir agora. O contacto fisíco com um homem tinha sido há imenso tempo e nas circunstâncias piores que se pode imaginar. Não iria resistir certamente.
Quando sentiu os lábios do senhor Vicente no seu pesçoco, uma duas e mais vezes, entre as belas palavras que lhe ouvia, entrou em órbita. Deu um passo para ele. Sentiu as suas mãos a percorrerem-lhe as costas e entregou-lhe a boca. Beijou-o como nunca o tinha feito. Gostou, repetiu. Várias vezes. Em silêncio, sem mais palavras, entrelaçou-se com o senhor Vicente. As suas mãos masculinas torneavam as suas formas femininas, sentia-se mulher de novo. Do corpo de Vicente vinham sinais de masculinidade, ficou feliz por senti-lo encostado a si. Optou por toca-lo, enquanto trocavam beijos e fluidos na boca um do outro. Abriu-lhe o fecho e com a mão sentiu-lhe toda a erecção. Não conseguia resistir, já não pensava em mais nada. Vicente sentiu o cinto e o fecho das calças a serem desapertados, não era costume nas suas conquistas caseiras e sorriu feliz com a ousadia. Ficou admirado quando ela deixou de o beijar e se ajoelhou. Estava perplexo mas, como não lhe desagradava de todo deixou-se estar. Sentindo-se a perder o controlo da situação disse-lhe: "despe-te, agora!" Ao ouvir tanta intimidade, Patrícia voltou a si. Olhou para cima e viu-o sorrindo de consolado e sentiu-se envergonhada. Não queria acreditar no que fizera. Como era possível não ter resistido ao marido da patroa. Afinal, o que tinha combinado com ela tinha sido o contrário do que estava a fazer. Largou-o, levantou-se, ajeitou a face, deu um passo para trás simulando que se ia despir e pegou na garrafa de lixívia. Agarrou-o e expôs-lhe a glande, em seguida derramou-lhe a lixívia sobre o sexo, dizendo: "Não lhe dei intimidade para me tratar por tu, pois não?"
De olhos fechados, Vicente gritou desalmadamente, que dor, que horror. Quando aguentou o sofrimento, abriu os olhos e já não viu Patrícia, apenas a sua mulher o fitava, escandalizada.
- Francamente Vicente, que baixaria atacar uma sopeira na casa de banho.
 
Abriu a 5 de Outubro de 2006.

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