viver no campo (2)
A opção de viver no campo, na Aldeia, retira-nos alguns
hábitos urbanos, pela ausência de equipamentos e de áreas adequadas. Oferece-nos outras possibilidades, das quais o sossego e o contacto com a ornitologia são as principais vantagens.
Depois da invasão do
morcego, da visita do “
falcão”, dos dois corvos, dos milhafres, das dezenas de pombos parados no fio eléctrico, além das andorinhas com as suas belas cores, pardais, melros e rolas (claro!), a melhor demonstração da beleza da natureza estava reservada para a noite.
Os voos nocturnos de uma coruja são usuais nas traseiras da casa. Um manto branco passa pelo ar, criando a sensação estranha de ver um vulto a rasgar o céu, em horas de lua. Caçadora nocturna por excelência, ajuda-nos a manter afastados de casa rastejantes peludos de cauda comprida.
Numa destas noites, na separação da propriedade vizinha com a do condomínio, a coruja posiciona-se em cima de uns esteios de cimento, observando o campo pronta para caçar. Para gáudio da pequenada, imitei o silvo da águia (esse animal sagrado), o som mais temido no campo. A coruja roda a cabeça 180º olhando à procura desse seu predador. Permaneceu quieta não sentindo perigo. Depois atacou pelo campo fora.
Noutra estive na varanda vendo as suas incursões pelo campo, ouvindo o forte barulho das suas asas, quando pretende ganhar velocidade para apanhar a presa. Durante todo esse período passou perto da casa três vezes, ia e vinha, deslocando-se em silêncio absoluto. Da última vez, depois de uma batalha vencida, arrancou passando mesmo por cima da varanda lá de casa.
É curioso como os animais adaptam o seu habitat natural à existência de humanos. Para esta coruja, todas os elementos humanos foram aproveitados para esconderijo, preparação de armadilhas e oportunidade de caça. Se fosse uma espécie protegida, além de ninguém a ver, era impossível construir nas imediações deste seu habitat. Perdia eu com isso, pois não teria a oportunidade e o deleite destas observações ornitológicas.