Saio de casa com as despedidas matinais a deixar-me um nó no peito. Até logo. Diariamente, só volto a encontrar a família à noite, antes de jantar, ou à hora deste.
No carro, mesmo em estado de cama - com os olhos mais fechados do que abertos, a rotina da viagem faz-se em piloto automático. Percorro o asfalto, pensando nos problemas que tenho pendentes à espera. Antevejo o meu dia de trabalho.
Dou o pisca, faço o último corte de acesso à fábrica e enfrento o porteiro. Troco os bons dias. À segunda-feira demoro um pouco mais, para colocar em dia a conversa futebolística. Fico a saber resultados, erros de arbitragem, classificações de vários campeonatos. A mesma devoção pelos vermelhos, permitiu estreitar laços e manter conversa.
Fecho o carro. Dirijo-me à porta de entrada. Após a sua abertura, não há engano: o ruído das máquinas indicam o tipo de ambiente que vou encarar. Subo as escadas e troco de ser. O homem de família dá lugar a um homem frio, pouco emotivo, embora simpático e atento aos outros, tratando-os sempre com particular igualdade e interesse, com capacidade verbal para trocar as ideias.
3.600 m2 com aproximadamente 130 pessoas à minha frente. Esperando por mim para colocar, ou resolver-lhes os problemas que vão surgindo no dia-a-dia laboral.
Dou a volta matinal. E toca o telefone. Irá tocar mais 80 a 100 vezes no dia, certamente. Duas de conversa banal, se o assunto não for grave e apontar o assunto. Normalmente faltas de artigos para fechar as caixas que irão encher o camião nocturno.
Faltas e mais faltas. Todos os dias é isto. Quando tenho a certeza que as faltas não o são, ataco. Ferozmente, uma asneirola para apimentar a conversa. Um pequeno insulto não individualizado.
Há meia hora atrás, era um ser feliz e agora, aqui estou nestas andanças.
Dia após dia, até Agosto. Quase sem faltar, sem saber o que é uma manhã de semana junto à praia. A esquecer o que é o tempo livre, quando os outros estão a trabalhar.
A isto se resume a vida de uma pessoa. Criar rotinas, viver nas rotinas, procurar no tempo livre outros interesses que complementem o ser. Social, sobretudo.
No íntimo, todos os que me rodeiam procuram o mesmo: cumprir a função e ganhar dinheiro. Eu tenho que encontrar motivação para algo mais. Evitar erros dos outros, coordenar as sequências, procurar melhorias e envolver todos os elementos numa causa comum.
Não sei onde tinha a cabeça, quando coloquei os meus apontamentos desta profissão num blogue com um nome assim contudo, é por lá que me sinto com vontade para continuar a minha aventura da escrita. A esta face oculta contraporei com os textos habituais no local do costume.
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