Passo errado
Poderá parecer a alguns demência, que eu me preocupe com o PSD.
Os congressos, os jogos de bastidores, as disputas pelo poder político pelas distritais sempre me interessaram, acompanhando dentro do possível, as movimentações partidárias nos dias de eleições internas dos partidos. Do CDS ao PS, segui alguns congressos, via comunicação social. Apenas, ressalvo, aqueles em que efectivamente existiu alguma disputa de liderança. Plebiscitos não aprecio.
Não me agrada a contagem prévia de apoios. Gosto do imprevisto e quando, os congressistas, ou delegados mudam de quadrante e trocam a volta a quem concorre, fico em êxtase.
Tudo isto a propósito do próximo congresso do PSD, a decorrer só em Setembro e no entanto, já com candidatos a procurar apoios, fazendo a volta a Portugal dentro do aparelho partidário.
Os candidatos perfilhados para as directas do PSD não trazem nada de novo. Luís Marques Mendes já provou o que valia. Procurou a moralização partidária, distinguindo arguidos, ou confundindo-os com suspeitos. Perdeu eleições autárquicas para os próprios arguidos e não esperou pelo desfecho dos processos em Tribunal. Desta forma, inventou um precedente terrível para o próprio partido. Como é muito fácil ser arguido em Portugal, basta existir uma investigação da Polícia Judiciária - várias vezes politizada (a investigação, obviamente). Além deste facto, temos Lisboa. Marques Mendes perdeu-se. Saiu derrotado copiosamente de todo o processo de Lisboa. O principal derrotado, conforme vários analistas o afirmaram. Em lugar de apresentar a demissão, não! Pretende continuar, agendando uma eleições directas, um processo nada claro, com várias acusações por parte de Luís Filipe Menezes e tiveram o culminar, com o voto em sentido contrário ao de Marques Mendes da Presidente do Conselho Nacional, Manuela Ferreira Leite.
Este facto foi determinante.
Em primeiro lugar, demonstrou que não existe união em todo o aparelho do partido. A expressão de Rui Rio é sintomática “do mal o menos”. Eu se ouvisse isto, não avançava. Percebia que efectivamente, o partido só está comigo por masoquismo, por não existir mais ninguém credível. Por se repetir o cenário para a presidência das eleições anteriores. As próprias sondagens de imagem, revelam que Marques Mendes não podia ter pior julgamento por parte dos eleitores sondados (
desta vez não me enganei). Com todos estes sinais, se os delegados ao congresso preferirem a continuidade do mesmo líder, demonstram que não estão interessados numa solução de Governo para o partido. Entregam à partida as eleições legislativas ao PS.
Voltando ao gesto de Ferreira Leite. Luís Filipe Menezes sentiu-se catapultado para concorrer. Está a contar votos, a verificar apoios e já fez saber que tem um bloco, onde aponta as suas ideias para a governação do país. Este facto é importante, pois a última experiência de liderança do PSD, com um político saído de uma autarquia foi um desastre. O homem de Gaia quer evitar esta imagem de falta de preparação. Mas, não consegue. Por muito que apareça na televisão, nos jornais, seja reconhecido como um bom autarca – que é – a maioria dos congressistas não simpatizam com ele. Além disso, Marques Mendes antecipou-se e foi ao bailinho da Madeira, arrebatar importante apoio. Sem problemas, diga-se. Cá para mim até gostou do que ouviu e viu.
Neste cenário, com um homem do aparelho do partido frente a um autarca, ele próprio também bastante do aparelho, só que alternativo, o que resta ao PSD?
Eleger uma terceira via, se aparecesse claro!
Dos nomes que li até ao presente dia, só um me entusiasmou, Alexandre Relvas. A perspectiva empresarial deste senhor, numa preparação de eleições a 1,5 ano poderia ser um bom lenitivo para este partido.
Todos os restantes estão demasiados queimados: Ferreira Leite, António Borges foram demasiadas vezes potenciais candidatos que perderam a hipótese de surpreender, sobretudo o eleitorado, não os delegados, pois estes votam de forma esperada e normalmente previsível.
Rui Rio padece do mesmo mal do Menezes – tem uma perspectiva demasiado paroquial do país, além de que Rio é um homem com um estilo curioso de arrogância e por isso, demasiado colado à imagem criada por José Socrátes e entre o original e a alternativa, os eleitores preferem o que já conhecem.
Porquê esta análise? Porque acredito na alternância no poder e aprendi um dia, num almoço comemorativo de uma vitória do PS, onde discursou Carlos Candal, que a unanimidade é aborrecida, além de acomodar bastante os militantes com responsabilidades governativas.
Partidos de oposição fortes amedrontam os partidos do Governo e assim, quem sai a ganhar são os cidadãos.
Infelizmente isso raramente aconteceu em Portugal. Por isso, é que estamos como estamos.