Cinema Paraíso
Ao irmos ao cinema a pé, o meu filho Manel ficou admirado pela opção. Não por preguiça mas, por considerar estranho, por ser a primeira vez. Para ele cinema representa ir ao shopping, de carro, arranjar lugar no estacionamento, comprar bilhetes à pressa e entrar em cima do inicio do filme, muitas vezes perdendo as apresentações e as sessões de publicidade.
Recordar uma sala de cinema da nossa infância, uma sala em que fomos fascinados por filmes, por imagens da sétima arte é um exercício comum, sobretudo, depois de assistirmos ao filme "Cinema Paraíso".
Curiosamente para mim, a
minha sala não ficava na terrinha, nem perto, nem no Porto. A uns 600 quilometros, em Armação de Pêra existiu um cinema fantástico. Ao ar livre, num pátio de uma antiga fábrica, murado, portanto. Com cadeiras de chapa, tipo esplanada. Por vezes, as noites eram frescas e os espectadores carregavam cobertores para se agasalharem.
Com o evoluir dos tempos, o cinema modernizou-se. O lado pitoresco perdeu-se. Cadeiras acolchoadas, tecto, sala quente. Apenas a programação dos filmes ainda se manteve fiel. Diariamente, à noite, havia projecções de títulos diferentes. Praticamente não havia repetições no mês de Agosto.
Passados uns anos, alguns, o cinema, a fábrica, onde estava inserido, foi destruído e transformado numa série de apartamentos. Mais uns tantos, que proliferaram no Algarve da minha infãncia.
Aliás, apenas o mar se mantém igual ao que era. Até à praia se tornou alugada, em praticamente toda a sua extensão.