escrita irregular
quarta-feira, junho 20, 2007
  Desafio
Foi-me lançado um desafio, vindo da Vareira. A escolha de um poeta ou escritor (português?).
Independentemente da nacionalidade, o meu escritor e também poeta preferido é Miguel Torga, o que não é surpresa para ninguém, que realmente me conheça.
Dados biográficos, fotografias, bibliografia, citações ou poemas não mencionarei nada. Para isso servem os links.
Torga entrou na minha vida muito tarde. Tive que o gramar, na escolaridade obrigatória, com os seus Bichos. Lembro-me de vários dos seus Diários nas prateleiras lá de casa. Com a sua morte, despertou-me a curiosidade. Lembro-me de um excerto de "Portugal", que me fascinou. Comovi-me até. Li os Contos da Montanha, para recomeçar.
Passado uns anos, a reedição total da sua obra permitiu-me ler a maior parte dos seus livros. Depois ofereceram-me os restantes e fiquei com a obra completa em casa, o que me permitiu continuar e complementar a leitura.
Antes dessa fase, tinha adaptado a serra, como lugar preferencial de destino. Essencialmente ver as águas das mesmas e usufruir do fresco. Falar com os velhotes residentes e resistentes. Caminhar pelos velhos trilhos. Encontrar antigas minas de exploração de minério, por deformação universitária.
Ao ler as palavras de Torga identifiquei-me. Percebi que o encanto da serra não era apenas a paisagem natural, era também a sua transformação harmoniosa pela mão do homem. Do homem cavador, simples, determinado, que remove a terra, que semeia, que colhe. Do homem que acompanha as cabras, que deixam as pedras à vista, comendo todo o verde que as rodeia.
Adorei a sua descrição dessas paisagens magníficas do "reino maravilhoso" em especial, da foz do rio Pinhão no Douro. A melhor imagem de Portugal, os socalcos plantados de vinha do Rio Douro e arredores. A vitória do homem, sobre a rudeza do terreno, sobre a dureza da vida.
Torga foi determinante para mim, para perceber melhor a minha anarquia, o meu sentimento religioso (indiferente, embora com rituais católicos), para entender melhor o papel do homem na Terra.
Voltei aos Bichos, sem a obrigação escolar, adorei o conto do Corvo anarca, que trilha o seu próprio destino, enfrentando Deus, seu senhor.
Li coisas como o Senhor Ventura, os Novos Contos da Montanha e mais outros, Vindima, ensaios como Portugal, uma sucessão de poemas e páginas de diários... Rejubilei com a Criação do Mundo. Daí saiu esta vontade de escrever, de partilhar as palavras com outros.
A origem humilde de Adolfo Rocha, em nada se alterou enquanto médico e escritor. Homem simples, apaixonado pela natureza, pelas artes. Não deixando de lado a sua profissão, de salvador de vidas humanas. Um exemplo a seguir?
 
Comentários:
sem dúvida...
serás como o vinho do Porto e eu a madeira que o envolve, envelhece e enriquece, espero...
 
não queria deixar de notar que um dos aspectos negativos na vida do escritor, foi o viajar pouco, facto esse que na nossa vida gostaria de contrariar...
 
Claro que é, o exemplo dele e o teu. Eu cá até tenho vergonha de dizer que ainda não devo ter lido nenhum, pelo menos completo, e a minha mãe também é fã e sempre me o incentivou.
Gostei de ler este teu pedaço.
 
caro rb, segue os conselhos da tua progenitora. novela, conto, apontamentos soltos ou poesia tens muito por onde escolher.
certamente será do teu agrado.
 
Escolher um entre tantos é uma tarefa ingrata. Tenho, no entanto, para mim que a escolha do RG assenta-lhe na perfeição. Torga, escritor, poeta e pensador, tantas vezes esquecido, é sem dúvida uma referência do Portugal contemporâneo. Este ano, em que se comemora o centenário de Torga, é altura de relembrar o poeta crente de um Deus do coração, O Deus-Menino, com fome de imortalidade e amante da natureza. Um dia vamos perceber que foi também com Torga que se ergueu a alma de Portugal na Península Ibérica. Miguel Torga é um pensador único desta parte meridional da Europa e não só deste cantão europeu a que nos reduziram. Ainda que não fosse minha escolha (única, sempre difícil e redutora) é um grande motivo de orgulho ver MIguel Torga como referência primeira do Portugal contemporâneo.
 
obrigado caríssimo Ofthewood, as tuas palavras acrescentaram o lado da imortalidade e do iberismo às de Torga. Referes algo também precioso: a compreensão da sua obra é um processo evolutivo.
 
Engraçado que nunca li nada de Torga, apesar de lá por casa ver alguns livros dele.Mas mais engraçado(...)acho, foi que estudei no 11º ano à rea de humanidades e li livros que dele nada tinham a ver:Almeida Garret, as Viagens e Frei Luis;Júlio Dinis, A Família Inglesa;Eça,Os Maias...mas o meu irmão andou com Os Bichos pela mão!Fiquei curiosa...acho que vou ter umas belas férias...
 
De Torga ainda só li «Os Bichos»,« Os Contos da montanha», «Os Novos Contos da Montanha» e poesias soltas aqui e ali, e sem dúvida que é um dos escritores e poetas mais genuíno do nosso Portugal.

Boa escolha RG

E para incentivar a leitura:

"Porque não vens agora, que te quero
E adias esta urgencia?
Prometes-me o futuro e eu desespero
O futuro é o disfarce da impotência....

Hoje, aqui, já, neste momento,
Ou nunca mais.
A sombra do alento é o desalento
O desejo o limite dos mortais."

Apelo, Miguel torga
 
resumindo, quem já leu gostou ou adorou, quem não leu ficou interessado e promete vir a ler.
aí está uma boa forma de incentivar a leitura.
1 abraço para todos.
 
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