Desafio
Foi-me lançado um desafio, vindo da
Vareira. A escolha de um poeta ou escritor (português?).
Independentemente da nacionalidade, o meu escritor e também poeta preferido é Miguel Torga, o que não é surpresa para ninguém, que realmente me conheça.
Dados
biográficos,
fotografias,
bibliografia,
citações ou
poemas não mencionarei nada. Para isso servem os links.
Torga entrou na minha vida muito tarde. Tive que o gramar, na escolaridade obrigatória, com os seus Bichos. Lembro-me de vários dos seus Diários nas prateleiras lá de casa. Com a sua morte, despertou-me a curiosidade. Lembro-me de um excerto de "Portugal", que me fascinou. Comovi-me até. Li os Contos da Montanha, para recomeçar.
Passado uns anos, a reedição total da sua obra permitiu-me ler a maior parte dos seus livros. Depois ofereceram-me os restantes e fiquei com a obra completa em casa, o que me permitiu continuar e complementar a leitura.
Antes dessa fase, tinha adaptado a serra, como lugar preferencial de destino. Essencialmente ver as águas das mesmas e usufruir do fresco. Falar com os velhotes residentes e resistentes. Caminhar pelos velhos trilhos. Encontrar antigas minas de exploração de minério, por deformação universitária.
Ao ler as palavras de Torga identifiquei-me. Percebi que o encanto da serra não era apenas a paisagem natural, era também a sua transformação harmoniosa pela mão do homem. Do homem cavador, simples, determinado, que remove a terra, que semeia, que colhe. Do homem que acompanha as cabras, que deixam as pedras à vista, comendo todo o verde que as rodeia.
Adorei a sua descrição dessas paisagens magníficas do "reino maravilhoso" em especial, da foz do rio Pinhão no Douro. A melhor imagem de Portugal, os socalcos plantados de vinha do Rio Douro e arredores. A vitória do homem, sobre a rudeza do terreno, sobre a dureza da vida.
Torga foi determinante para mim, para perceber melhor a minha anarquia, o meu sentimento religioso (indiferente, embora com rituais católicos), para entender melhor o papel do homem na Terra.
Voltei aos Bichos, sem a obrigação escolar, adorei o conto do Corvo anarca, que trilha o seu próprio destino, enfrentando Deus, seu senhor.
Li coisas como o Senhor Ventura, os Novos Contos da Montanha e mais outros, Vindima, ensaios como Portugal, uma sucessão de poemas e páginas de diários... Rejubilei com a Criação do Mundo. Daí saiu esta vontade de escrever, de partilhar as palavras com outros.
A origem humilde de Adolfo Rocha, em nada se alterou enquanto médico e escritor. Homem simples, apaixonado pela natureza, pelas artes. Não deixando de lado a sua profissão, de salvador de vidas humanas. Um exemplo a seguir?