escrita irregular
sábado, abril 21, 2007
  Divórcio 8
Daqui a meia hora vou conhecer os meus sogros e a minha enteada.
Estou curiosa. Vou adora-los, eu sei. Espero agradar a todos, em especial à pequena, de forma a que a relação entre ela, os miúdos, o pai e eu fique solidificada.
É uma forma diferente de ter família mas, com ele tudo foi esquisito.
Aliás ele é bem esquisito, foi isso que adorei nele. Conheci-o no meu trabalho. Era novo na cidade, não tinha amigos, só alguns familiares afastados e a ela.
Trabalhávamos juntos, almoçávamos juntos. Comecei a simpatizar com ele. Tornei-me confidente. Na noite em que se zangou da primeira vez com a namorada, fizemos uma grande farra. Levei-o pela noite, diversão até de manhã. Adorou, repetimos várias vezes. Entretanto, uma noite disse-lhe quero-te e ele respondeu "finalmente, já te queria há muito tempo". Estava disposto a esperar por mim, que querido.
Tudo correu bem, durante meses até eu falar em casamento. Deixou-me, voltou para ela. Fiquei extremamente infeliz. Ainda por cima, "descobri que é o amor da minha vida", os homens adoram pregar esta partida às companheiras. O passado é que foi bom. Com outra, claro. Nós servimos para tudo mas, no passado é que foi.
Não aceitei e não desisti. Sempre ao meu lado de dia, mesmo pai de um filho, sabia que um dia o agarrava de novo. Consegui após anos e anos, com mais um filho deles pelo meio.
Só meu de novo, casei. Ficou integrado na família, dava-se bem com todos, meus irmãos, sobretudo.
Um dia, sem mais nem menos, notei nele uma falha de pensamento. Vários dias assim, com tendências maníacas. Convenci-o a recorrer a um tratamento, com um médico conhecido. Saiu-me mal a brincadeira, ficou pior, queria-me trocar por outra. Mudei-o de médico.
As separações fizeram-lhe mal, eu era a única âncora segura nas suas relações. Aguentei tudo. Vi os miúdos a crescerem, acompanhei-os sempre. Nunca com o estigma de madrasta mas, como companheira, esposa, do pai.
Gostaram sempre de mim. O que deixou a mãe deles fula, coitada.
Nunca simpatizamos uma com a outra. Não era possível. Anos e anos a dividir o mesmo homem.
Ela bem tentou tirar-me, mesmo doente. Eu sei que ele lhe prometeu mas, quando se vir sozinho, vai querer-me com eles.
Mais 15 minutos estamos lá. Tudo a dormir. Coitados dos pequenos.
Estou convencido que sem ela, será mais fácil recuperá-lo. Com mais família. É certo que este regresso ao passado, traz novas recordações. Algumas nunca tinha ouvido falar, como bisnagas de padeiro. Já nem sei se é delírio...
Cismou que tinha sido casado 6 vezes, confundiu os namoros com casamentos, como ele anda!
Vou fazer-lhe uma surpresa amanhã.
Tenho 35 anos e ao contrário do que todos pensam, não sou nada estéril. Apenas, não quis ter filhos até agora para não o confundir mais. Ui, como teria sido.
Que confusão.
Ali está a placa. Sair aqui e mais 5 minutos, regressámos ao passado deste homem. O que ele sofreu, que vida. Espero que o pai esteja calmo, humano. A minha sogra deve ser porreira, não? A minha "quase licenciada". Uma doutora na família que fixe. Até é um exemplo para os rapazes.
Ele podia ir estudar à noite. Como não me lembrei disso mais cedo!
Vai fazer-lhe bem.
Imaginem! Pensar que tinha casado 6 vezes. Duas vezes comigo, outras tantas com a falecida, uma com a lambisgóia e uma aqui na terrinha. Imaginação fértil. Perdeu mesmo a noção. Troca tudo. Tinha cortado relação com a minha família, dizia e era com a da outra. E com a dele, também!
Ai, ai! Tudo vai mudar.
Estou curiosa. Vou acordá-lo deve ser perto desta padaria. Será que era esta a padaria do creme em corpos nus? Devia ser fresca a outra, devia, devia.
Vamos a isto.
Só para mim, efectivamente.


nota:
dedicado a todos os leitores, incógnitos, do blog.
os passivos, lêem e não comentam por aqui.
procuram incentivar-me pessoalmente, noutros encontros, pessoais ou virtuais, à escrita continuada, romanceada.
como podem ver, só tenho disto para oferecer. talvez ou por certo, por efeitos da terapia do Dr. Antunes: "uma da manhã e a minha avó a perguntar pela azinheira.(...) três da manhã no forte em Peniche (...) duas da manhã eu de ventre aberto". Melhoras, rápidas
 
Comentários:
Continuo a ler...passivamente umas vezes, e outras revelando o quanto me agrada e me apaixonada a tua escrita irregular.
 
é um bom elogio, sem dúvida.
ora, fico com responsabilidade acrescida, não é?
 
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