escrita irregular
domingo, abril 15, 2007
  Divórcio 5
A minha tia telefonou-me hoje. Que chatice! Sempre a falar-me do meu passado. Da minha filha. Que chata.
O pretexto hoje deixou-me irritada. Parece que o meu primeiro marido vai regressar a casa dos pais, ao fim destes anos todos. Vai reencontrar-se com a filha, que também é minha.
Quero lá saber.
Já nem me lembrava dele.
Ainda bem.
Eu sei o que a tia queria: visitar a terrinha, revê-los a todos, em especial a minha filha. Não seria lá muito bom, apresentar-me. É certo que sou mãe, embora, não tenha grande cartão de visita.
Prefiro assim.
A maternidade nunca me seduziu. Queria libertar-me do tirano que era o meu pai. Sempre a impor-me limites. Horas para regressar a casa, satisfações sobre com quem saía, a controlar-me os namorados, o que tinha feito, um sufoco.
Saíu-lhe tudo ao contrário.
Deve ter ficado fulo quando soube das minhas façanhas. E quando fugi, divorciada, largando a miúda, partindo com um desconhecido, cheio de dinheiro por negócios não muito legais. Ainda hoje vivo com ele. Na luxúria.
Dos tempos da padaria fiquei com boa fama, que tempos esses. Serviram-me de preparação para esta vida. É certo que isto não é vida, sexo e droga, entre todos os luxos.
Não me posso lamentar. Sempre gostei.
Daqui a uns meses ofereço uma prenda fantástica à minha filha, por intermédio da minha tia. E só isso. Não consigo encará-la. Nem sei se a consigo enfrentar. É certo que foi graças a ela que me libertei do controlo do meu pai. "A minha filha irá virgem para o casamento", palerma.
Na verdade aproveitei-me da inocência daquele gajo, um romântico. Ficou transtornado, quando lhe contaram que as minhas facetas não eram só com ele. Coitado, como ele ficou. Na verdade, eu também ficaria. Ficou com a vida condicionada por minha causa. A cara dele quando eu começava com as maluqueiras, que riso. A bisnaga lá do padeiro a aproximar-se dele e ele sem perceber nada, inocente. Fazia isso a todos, era a prova à masculinidade deles. Pascácios. Em boa hora me apareceu este tipo.
Regressar? Não!!! Que chata a tia. A minha filha que me perdoe. Não a consigo encarar. Um dia recompenso-os a todos. Sou rica, dou-lhes presentes para os recompensar pelo meu passado.
Passado? Que ideia mais triste. Estou a ressacar. Onde coloquei a caixa da branquinha?
 
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