o bilhete
No departamento trabalhava ela e mais 7 homens. Esta singularidade permitia sempre a analogia com a história infantil. Esta Branca de Neve era mesmo a “mais bonita” da empresa. Não havia espelho que se enganasse.
Os colegas adoravam-na, claro. Passar o dia no gabinete em tão boa companhia era maravilhoso. Ela tinha estabelecido um código de respeito com eles. Ninguém dava um passo fora do trilho profissional e mantinham uma relação de camaradagem perfeita. É certo que todos a cobiçavam pois, aliava beleza com perfeição corporal.
Todos procuravam ser simpáticos, era sempre servida de café e pequenos biscoitos, uma gentileza que agradecia e tentava retribuir da melhor forma. Uma ajuda a um colega mais atrapalhado com o expediente, nunca era negada e os rapazes por vezes, até lhe pediam para os inspirar.
O director de serviço, manhoso, solicitou-lhe para chegar 5 minutos mais cedo e sair mais tarde, outro tempo igual, desta forma dizia ele “consigo que esses gajos cheguem antes de si e saiam depois”. Todos esperavam a sua entrada e saída para vê-la passar. É evidente que durante o dia também se levantava mas, aquela passagem pela porta e o percorrer do acesso tinha um valor superior a qualquer outro momento.
À saída quando se levantava, tinha um ritual de sensualidade que deixava os colegas loucos. Como se estivesse em privado, ajeitava as calças – quando optava por estas, naquele jeito feminino de puxar num lado da anca, alteando o respectivo peito e em seguida o outro lado. Olhava em redor e via os 14 olhos fitando-a, sorria e dizia “até amanhã”.
Uma manhã, ao chegar à secretária viu um envelope em cima desta, com as inscrições
”para ti”. Ficou furiosa, perguntando ofendida “quem colocou isto aqui?”, quase todos se intrigaram. Olhavam uns para os outros para descobrirem o culpado de tamanha ousadia. O código de ética no gabinete estava a ser violado. Quando se preparavam para apontar o dedo ao culpado, uma forte gargalhada interrompeu-os. Era ela divertida com um bilhete em formato A6 na mão. E ria-se, sem dizer palavra. A certa altura, olhando para o autor da proeza, perguntou-lhe “como é que conseguiste isto?” e chamou-os a todos para partilhar o bilhete. Tratava-se do recado, em original, do treinador para o Simão, indicando-lhe a táctica com a entrada de um dos suplentes.
(contributo para o 2º mês do blog - espere que ninguém fique corado(a) a ler isto)